Americano, 61 anos, hétero, casado e pai de três filhos, Mark Bryan bombou na internet essa semana por seus looks do dia. O engenheiro acumula cerca de 100 mil seguidores no Instagram (@markbryan911), onde posta seus looks que confrontam estereótipos. Saias e saltos são os maiores destaques do perfil.
Mark é defensor da moda genderless (sem gênero), ou seja, defende a ideia de que não existe roupa adequada para cada gênero. Devido ao seu estilo fora do padrão, ele sofre muitos questionamentos a respeito de sua orientação.
“Na maioria das vezes, respondo que não é da conta das pessoas, nas outras apenas falo que sou hétero. Em alguns momentos ataco, principalmente os homens e digo ‘por que me ver com saia te faz pensar sobre minhas preferências ?”, afirmou em entrevista para um site.
Atualmente, na grande maioria das lojas de vestuário, as roupas são catalogadas como feminino e masculino, estampas, tons, modelagens, todos voltados para um gênero específico. Você sabia que nem sempre foi assim?
Até a idade média, a modelagem das roupas eram as mesmas tanto para mulheres quanto para homens. Outro exemplo é Coco Chanel, que trouxe para o guarda-roupa das mulheres, peças consideradas masculinas.
“O salto alto mesmo foi criado principalmente para os homens, depois foi ganhando novos significados, e o salto agulha direcionado para o universo feminino. O mesmo com a cor rosa, que na sua origem não estava relacionada com o feminino, isso só vai acontecer no século XX com o marketing”, apresenta Maria Antonia Romão, professora de Design de moda da UEL (Universidade Estadual de Londrina).
Segundo ela, Mark Bryan usa da aversão simbólica para se vestir, assim como as feministas com a calça no final do século XlX e ao longo do XX. “A moda ‘agênero’ é um reflexo da busca contemporânea por igualdade entre todos e suas escolhas de identificação. Ao longo da história do vestuário vamos ter muitos exemplos disso, seja por necessidade prática, seja por posicionamento político-social”, esclarece a professora.
A socióloga Meire Elen Moreno conta que o conceito de gênero ficou mais conhecido a partir dos anos 1990, com o objetivo de revelar aspectos das relações desiguais entre homens e mulheres.
“Quando dizemos ‘gênero é socialmente construído’, nós afirmamos que essas características que geralmente são ligadas à feminilidade ou a masculinidade, não são dados biológicos”, exemplifica a socióloga.
Ela explica que vamos aprendendo essas características durante o processo de socialização. “Na mesma medida que construímos o gênero, as desigualdades são construídas”, pontua Moreno.